"Aquele que não deixa nada ao acaso raramente fará coisas de modo errado, mas fará pouquíssimas coisas."
George Halifax
Existe um certa arte no abandono emocional, mais ainda que no desapego. É uma combinação de fé e auto-disciplina que te permite entregares nas mãos do acaso uma coisa que é vital para ti. Tens de o fazer para as tuas sementes produzirem os seus frutos.
Estudas para o exame, dás o teu melhor, entregas a prova e és obrigado a desapegares-te porque a partir de agora o teu futuro está nas mãos de outra pessoa.
Cuidas dos filhos, eles crescem, numa determinada altura tens de os deixar ir para percorrerem os seus caminhos, com a tal auto-disciplina interior que te permite desistir do controlo e com a fé de que tudo irá correr pelo melhor.
Trabalhaste imenso naquela empresa, agora foste despedido. Tens de deixar ir o salário, a sensação de segurança, os amigos, a rotina. Deixa-os ir, uma nova realidade e um novo caminho te esperam já ao virar da esquina.
Em muitas circunstâncias, como as que descrevi acima, és obrigado a encaixar a realidade do desapego e a mudar o teu rumo de vida. Não importa a tua opinião, alguma coisa te empurrou para uma nova realidade e tu tens duas opções: abraçá-la ou lutar contra ela. Devo dizer-te que, podendo lutar contra ela, estás a tentar parar o comboio de frente. O comboio vai ganhar-te, com grande vantagem.
Mas também há ocasiões, e são a maior parte, em que tu te podes propor um objectivo ou sonhar um sonho. Nestas alturas tu tens a oportunidade de fazer por ti mesmo ou abandonar ao acaso conforme escolhas. A minha sogra não diz "abandonar ao acaso" diz "pôr nas mãos de Santo António", também é frequente "deixar nas mãos de Deus", ou deixar que "sejam as forças cósmicas do Universo" a tomar conta do assunto.
Em qualquer dos casos, não importa o que lhe chames, o facto é que: fazes o teu melhor e, numa determinada altura escolhes, em vez de continuar a lutar pelo teu objectivo, largar tudo e deixar acontecer. Esta é a sabedoria popular da "encomenda" aos santos de devoção, "vou encomendar este assunto a Nossa Senhora". Não penses que o povo é ignorante ou supersticioso. Pequenos rituais que tu desprezas estão cheios de intenção e sabedoria... e funcionam.
No momento em que abdicas do poder de executar, planear, encontrar soluções activamente e te pões à escuta, os teus sentidos sintonizam-se numa frequência única que te vai guiar ainda mais além do que tu poderias ter imaginado.
Experimenta a criar um pequeno objectivo na tua mente. Por exemplo conseguir este mês ganhar 150€ extra, ou ter algumas lições de violino, ou ainda, ter uma saída com uma garota linda ou um homem fantástico ou então publicar as tuas poesias escondidas na gaveta. Não importa o que é, desde que seja algo que queiras fazer já há algum tempo e que te apaixone. Escreve-o num papel.
Já escreveste? Não? Então não avances a leitura até o teres feito. Já está? Óptimo. Vamos prosseguir.
Agora fecha os olhos e vê-te a ti na situação em que o teu objectivo está concretizado. Desfruta, sente a alegria e a gratidão por teres realizado esse sonho. Visualiza, sente, estás a ouvir a vozinha que tenta convencer-te que isto é tudo uma parvoíce? Óptimo, deixa-a a falar sozinha e desfruta do resto.
Depois de terminares este pequeno exercício vai fazer os teus afazeres. Não te preocupes em encontrar soluções, nem caminhos, nem em procurar quem te ajude. Simplesmente não faças nada, deixa acontecer. Mantém-te porém ligado à tua visualização, em segundo plano, na tua mente, e mantém-te alegre e agradecido.
O acaso, ou o Universo, ou Santo António ou Nossa Senhora de Fátima estão a trabalhar. Tu não precisas de saber o que estão a fazer, não te interessa nem te diz respeito. O que te interessa é que vai chegar o momento em que vai ser pedida a tua colaboração.
Essa tarefa vai-te ser apresentada e tu irás saber perfeitamente que é algo que tem a ver com o teu sonho, mesmo que não consigas assim de repente ver uma ligação. Por exemplo, ganhar mais 150€ este mês é o teu objectivo, e sentes que é importante ires desejar um feliz aniversário a um vizinho doente que soubeste hoje que fazia anos. Podes não ir porque não vês nenhuma relação, mas se não fores não te irás cruzar com o filho dele que veio de fora e que está no mesmo ramo de negócio que tu ou tem uma proposta para ti, ou te irá apresentar uma oportunidade, ou te vai pegar uma gripe que te obrigue a ficar em casa e ler algum livro importante ou encontrar um site, ou outra coisa qualquer. Tens de seguir essa intuição, se queres o teu sonho, sem julgar e sem segundas opiniões.
Quando lanças uma intenção deliberada, deixa-a ir. Ela voltará quando precisar da tua colaboração. Nessa altura age, rapidamente, sem reservas. O Universo gosta de rapidez, o Acaso aprecia acção. Depois de teres executado o teu papel, volta a deixar as coisas acontecerem, larga-as de novo, deixa-as ir. O Santo António vai continuar a fazer trabalho dele e Nossa Senhora de Fátima a interceder pelo teu milagre.
Quando o tempo estiver maduro e todas as peças estiverem no seu lugar vais ser apresentado ao resultado. O teu sonho vai estar ao teu alcance, não somente ao teu alcance mas à distância de um braço esticado. Falta a tua última acção: esticar o braço e colher os frutos.
Nesta altura, muitas pessoas vão embora e deixam os frutos a apodrecer na árvore, simplesmente porque parece bom demais para ser verdade, ou então porque não estão dispostas a efectuar as mudanças de vida necessárias para acolher a nova realidade.
Certifica-te de que não estás num destes grupos que deitam tudo a perder por não conseguirem abraçar e aceitar algo de tão positivo que até podem pensar que não o merecem. Tu mereces, mereces isso e muito mais e existe tanta abundância reservada para ti que tu nem consegues abarcar nos teus sonhos mais arrojados.
Só precisas de seguir as regras do jogo. Agora visualizas apaixonadamente, em seguida desligas-te e deixas ir. Pouco depois ages com entusiasmo para seguidamente deixares o processo seguir o seu caminho sem ti. Esta respiração é fundamental mas requer de ti um misto de fé e auto-disciplina que muitas pessoas não têm nem estão interessadas em adquirir, mas algumas outras fazem deste jogo o seu modo de vida e tudo parece fácil para elas, e aparentemente as coisas caem-lhes no regaço sem esforço.
E este vai ser o teu caso. Um em mil.
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